Fátima Trinchão
Poesias, Contos, Crônicas
Textos
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
FAZ-SE URGENTE UMA MODIFICAÇÃO DE COMPORTAMENTO




            O dia vinte e um (21) de janeiro é dedicado à reflexão sobre a intolerância religiosa, esta data foi oficializada pela Lei 11.635 como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em vinte e sete (27) de dezembro de dois mil e sete (2007).
           O dicionário da língua portuguesa define intolerância como falta de tolerância, fanatismo, intransigência; a intolerância é a dificuldade em aceitar o outro e sua cultura, tornando assim, uma convivência que poderia ser pacífica e agradável em momentos de distúrbios, tensões, agressões. Intolerâncias sempre existiram entre os fiéis dos vários segmentos religiosos existentes em nossa humanidade, cada um pretendendo que a religião escolhida seja a mais certa, a mais perfeita, aquela que detém toda a verdade. Como conseqüência os outros, que escolhem outra religiões, professam outros credos, tendo também a mesma opinião, não conformam-se em ver e ouvir o que lhe é sagrado, minimizado à condição de imprestável e sem valor, quando muitas vezes, outros adjetivos são empregados, mais fortes, mais dolorosos, mais ferinos, assim sendo, se de uma parte, a sua religião é a melhor, é a que detém a verdade, a outra parte também acredita que o seu credo é o mais perfeito, logo, uma palavra mal dita, um gesto impensado, poderá gerar atritos que, desencadeando no terreno movediço da violência, gerará mais violência, já que, como é bem sabido, toda ação, gerará sempre uma reação. A Declaração Universal dos Direitos Humanos no seu artigo primeiro determina que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos e devem agir em relação umas às outras, com espírito de fraternidade e consciência.” Mas, no mundo inteiro o que podemos ver são milhares de pessoas que se digladiam em nome da religião, e a utilizam como motivo para impor o seu domínio, para formalizar o seu poder sobre o outro, não permitindo que o outro exerça a sua fé, segundo a sua cultura e a sua vontade. Jonathan Swift, escritor irlandês, nascido em Dublin no século XVIII, diz que: “Temos religião o suficiente para nos fazer odiar uns aos outros, e não o suficiente para nos fazer amar uns aos outros”.
                  A Constituição Brasileira, no seu Artigo 5º. inciso VI reza que: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção dos locais de culto e a suas liturgias”. A ninguém é dado depreciar-se esta ou aquela religião, mesmo porque, religião é algo que não se discute, cada um professa a que achar melhor. Na Bahia, mais em particular, na cidade de Salvador faz-se mister uma maior conscientização por parte de fiéis de outros segmentos, que, acreditando-se detentores de uma verdade, voltam-se para os seguidores das religiões afro-brasileiras, hostilizando-os com palavras, quando não, agredindo-os fisicamente. Vide notícias veiculdas em meios de comunicação. A intolerância não perdoa esta ou aquela faixa de idade ou hierarquia religiosa, atinge idosos, homens, mulheres, e crianças, não respeitando sequer o princípio universal de amor e compaixão para com o próximo, os fiéis, seguidores de outras vertentes religiosas, não querem aceitar ou não sabem, ou melhor, ignoram que, a religião afro-brasileira tem seus sacerdotes e sacerdotisas, seus ritos, seus cantos, seus livros sagrados, seus templos, como todos os outros que têm o direito de professarem a sua religião, segundo suas crenças e liturgias. A violência perpetrada, muitas vezes gera conflitos psicológicos e físicos de difícil reparação, como dizer a uma criança que a religião milenar de seus pais e avós é tão sistematicamente maculada por pessoas que a desconhecem e também por racismo, já que no seu imo, estão acostumados a verem aquilo que pertence ao negro como sem valia, inferior; como explicar-lhe que os seus Orixás, tão divinos, dignos, justos, cheios de graças e luzes, são tão largamente depreciados e vilipendiados por tantos ? Como explicar-lhe que originários do continente africano, fomos privilegiados pelo Alto, com uma cultura rica, que nos legou uma religião de amor, respeito, bondade, carinho e justiça e que, por ignorar bases tão profundas e seculares nos agridem? Como dizer-lhe que, sendo a África o berço da humanidade, essencial é conhecê-la, para que, todos nós possamos nos conhecer, e tal constatação é negada ad infinitum ? Não são poucos os casos relatados por sacerdotes, sacerdotisas e adeptos do culto afro-brasileiro de agressões físicas, discursos com conteúdos depreciativos à nossa religião, invasões dos templos religiosos, demonização, hostilizações, dando ênfase à segregação social e a discriminação racial, diante de tais formas de agir, podemos dizer com o Cristo: “Perdoai-lhes, ó Pai, eles não sabem o que fazem”. 
                     A religião é um fator de equilíbrio físico, social, psicológico, infelizmente, no dia a dia vemos que é ao contrário, o que deveria unir e ligar, é motivo de discórdia e afastamento. O Pai Oxalá, nos traz sempre as bênçãos da paz, da alegria, do equilíbrio e da abundância, o Mestre Jesus nos orienta no sentido de amarmos ao próximo como gostaríamos de ser amados. Sejamos dignos dos nossos princípios e crenças, lembremo-nos sempre que a nossa religião é perfeita para nós e a dos outros é perfeita para eles, logo, o outro merece respeito, o mesmo respeito que nós queremos nos seja dado; se o outro é diferente, vamos buscar conviver com ele, entendê-lo, trocar idéias e aprender com suas experiências evivendo assim o supremo mandamento,  do "amai-vos uns aos outros", um amor incondicional, sem as barreiras que muitas vezes são erguidas, afastando aquele que está próximo, se assim o fizermos teremos um enriquecimento de ambas as partes, não haverá a ditadura pretendida por muitos, mas, ambos permanecerão na sua fé, agora um pouco mais ricos e isso é possível sim, basta que para tanto, haja entre os homens boa-vontade.
Fátima Trinchão
Enviado por Fátima Trinchão em 18/01/2009
Alterado em 18/01/2009
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