Naquele momento intenso,
burburinho e carros e tudo,
um homem de terno e pasta,
passando pela calçada,
e um homem nela sentado,
lhe chama e estende a
mão:
“ Ei Amigo, espere um pouco,
um pouco mais talvez,
não te apresses tanto ainda,
caminha mais devagar,
caminha vem ao meu lado
permite que lhe acompanhe
nesse seu bom caminhar,”
e assim falava e estendia,
a mão num gesto de espera,
da resposta que não vinha;
parecia em um segundo,
a eternidade, uma era,
“Amigo, não se apresse,
espere, que já lhe alcanço
trabalho na mesma messe,
é duro o seu caminhar,”
e o homem apertou o passo,
e o homem não escutou,
e desapareceu em segundos,
no meio da multidão,
imerso no próprio mundo,
vivendo em solidão,
brigando sempre consigo,
o homem que se fez surdo,
ao chamado de um amigo.
Naquele momento intenso,
burburinho e carros e tudo,
um homem caminha hirsuto,
um homem de terno e pasta,
passando pela calçada,
imerso no próprio mundo,
pagando um forte tributo,
vivendo em solidão,
o homem que se fez surdo,
brigando sempre consigo,
o homem que se fez surdo,
ao ser chamado de amigo!