Fátima Trinchão
Poesias, Contos, Crônicas
Textos
EVOLUÇÃO

Não sei se viestes após mim,
ou eu após ti;
só sei que arrancaste-me
e aos meus do meu chão
e eu,
eu morri muitas vezes
na travessia;
vendeste-me cá,
como mercadoria barata,
sem valor e eu,
chorava por dentro
o ódio que por ti
vertia;
trabalhei de sol a sol
nas suas terras,
nas suas casas,
nas suas aras,
e tu,
tu me davas no lombo
chicotadas,
que deixaram-me pelos
séculos marcas
de mil lapadas;
cortaste-me os
dedos, os braços, as pernas,
furaste-me os olhos,
impediste-me
o crescimento, relegando-me
ao ostracismo e necessidades,
e eu, eu relegado, humilhado,
cuspido, pisado, marginalizado,
discriminado...
morri, morri, morri
tantas vezes quantas foram
a tua ambição, o teu desamor,
o teu orgulho, a tua prepotência
e de ti tive raiva;
porém,
tu viste que o orgulho
a nada leva, e eu,
eu vi, que o ódio
marca e mata ;
tu viste que
com a tua ambição
nada apreendes,
e eu, eu vi
que
com as minhas mágoas
nada construo;
percebemos, que somos
mais iguais
do que sabemos;
complementos, sempre fomos
e seremos, só agora
percebemos;
somos, a noite e o dia;
o sol e a chuva;
o claro e o escuro;
o feio e o bonito;
o ir e o permanecer;
o ser e o não ser;
percebemos e ai,
Olho para trás
e vejo,
quanto tempo, tempo,
tempo,quanto tempo
nós perdemos;
dispo-me das mágoas
e dos escolhos,
e tu,
tu te despes dos
seus ódios e orgulhos,
e assim desta forma,
sedentos de paz
sedentos,
nos escaninhos
de nós,
buscamos o tempo
perdido do crescimento,
profundo, maior
e dessa forma caminhamos,
dar-me-ás na caminhada
a mão;
dar-te-ei o ombro do amigo,
do irmão,
e no perau do vale
profundo,
nada nos resta senão
avançarmos,
nesta marcha, neste mundo,
sempre unidos, constantes,
e juntos!




 
Fátima Trinchão
Enviado por Fátima Trinchão em 14/05/2009
Alterado em 18/12/2017
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