Fátima Trinchão
Poesias, Contos, Crônicas
Textos
JOANA
Era  assim, ela vinha de longe,
Muito longe!
Apoiava-se num bastão
Que lhe servia de bengala,
Quase nada dizia, bem pouco falava.
Sobre  o pretérito  franzia a fronte,  
Chamava-se,Joana,Maria Joana.
De seu tinha tudo no mundo,
Do arrebol ao entardecer,
Tinha  a luz do sol;
A noite,
lhe trazia  as mais brilhantes
Estrelas do céu.
E dessa forma ela vinha,
Chamava-se Maria..
Sentia  um frio intenso
Intenso e constante,
Ainda que estivesse  
Radiante e presente,
o astro rei,
Um pesado casaco de lã cinza,
A  protegia.
Cobria-lhe a Cabeça um pano
Branco, tão  alvo quanto  o algodão
Florescendo nos campos e fazendas
Do seu tempo de menina....
Os passos lentos, os ombros arqueados,
Já era anciã,
Não  sabia a idade, mas, quando falava
Dizia ser  filha de ventre livre,
E viveu o dia de ouro da lei,
E teve festas  o dia inteiro,
O dia  todo:
Discursos, desfiles, falácias,...
Salmos,  santos e benditos.
Repetidamente os sinos dobravam,
Tudo ali se combinava,
Tudo estava  mais bonito.
Já anciã, a idade não revelava,
Mas, a quem quisesse escutar,
Ela dizia,ela afirmava,
Nunca  conheci o tronco,
Nem o chicote,
Nem o pelouro,
Nem os desdouros
D'uma  vida triste,
Nunca fui escrava,
E Nem nasci cativa,
Sou Filha de um ventre livre!
Assim era Maria,
Assim era Joana.
Apoiava-se num bastão
Que lhe servia de bengala,
Quase nada dizia, bem pouco falava.













Fátima Trinchão
Enviado por Fátima Trinchão em 03/12/2018
Alterado em 04/12/2018
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